Realidade da adoção

A adoção no Brasil ainda não tem o melhor processo do mundo, mas caso penses em dar esse passo deverias entender o que pode fazer com que demore muito mais para teres teu filho nos braços.
Neste post tenho a ajuda do Rafael da linda família Quadros Gerhardt contando um pouquinho de tudo que envolveu a adoção do João e a realidade que envolve esse tema.

Foto Daniela Dimer

"Hoje a realidade das adoções no Brasil é a mais diversificada possível.
Muitos que estão na fila de espera para adotar, reclamam do tempo que muitas vezes levam anos para terem seus filhos... Mas não podemos julgar sem antes sabermos o perfil da criança que este adotante solicitou. Hoje a maioria das crianças em abrigos ou destituídas são meninos, maiores de 10 anos, pardas ou negras. Enquanto que a maioria dos adotantes pede menina, recém-nascida, loira e de preferência com olhos azuis. Então vejam que as crianças aptas para adoção não correspondem com o perfil desejado.

Números da Adoção no Brasil (dados do Senado Federal)
1 em cada 8,15 crianças abrigadas está apta para adoção;
43,59% das crianças são do sexo feminino e 56,41% são do sexo masculino;
47,69% são pardas, 19,01% são negras e 33,01 são brancas;
36% das crianças possuem irmãos para adoção;
77,31% das crianças têm mais de 10 anos e apenas 4,15% tem entre 0 e 3 anos.

Acreditamos que a sociedade em si, ainda não está preparada para receber essas crianças, que muitas vezes sofrem preconceitos na escola, restaurantes, lojas, etc...
Precisamos repensar o modo de ver essas configurações familiares, deixarmos o pré-conceito de lado e olharmos com os olhos do coração ou com o sentimento que uma criança olha outra quando encontra uma família para amar e ser amada.
Falo isso porque um amigo nosso adotou um menino de 9 anos e meu filho que esta prestes a fazer 6 anos que também foi adotado mas com 4 meses, me falou um dia quando voltávamos de um parque aquático o qual fomos passar o dia com esse amigo e seu filho... Pai que bom que o Lucas agora tem uma família né? Eu respondi claro filho, e ele me respondeu, agora ele vai ser muito feliz porque tem uma família...
Então me digam se os adultos pensassem assim não viveríamos num mundo muito melhor?


Mas voltando para a adoção, quando eu e meu companheiro adotamos o nosso filho, não tivemos nenhum tipo de preconceito, desde o início do nosso processo no fórum, até fazermos os documentos novos (certidão, RG, CPF) o que acontece é que as instituições não estão preparadas para essas configurações familiares...
Na nossa cidade fomos o primeiro casal homoafetivo a adotar, então quando fomos fazer a certidão que a juíza já havia expedido, no cartório não tinham como preencher, tiveram que pedir auxílio para capital e após conseguiram fazer a certidão de nascimento do João Vitor.
Outro fato bem importante do despreparo foi o CPF, o atendente me respondeu que não poderia fazer, pois no sistema não consta dois pais, então insisti que precisa fazer o documento, ele olhou na certidão, e questionou se o nome do meu companheiro estava certo, falei que sim, então ele respondeu já sei como vou fazer (isso porque o meu companheiro se chama Lucimar... então o atendente olhou para mim e disse: Lucimar pode ser tanto homem como mulher, então vou colocar ele no espaço destinado a mãe e resolvido o problema). Falei que não poderia ser assim, porque mais tarde poderia dar problemas. Resumindo ele me olhou e disse: ou fazemos assim ou não tem como fazer.
Outra instituição que tivemos problemas foi no INSS, entramos com processo de licença maternidade / paternidade e após dois anos de audiências e entraves burocráticos, conseguimos tirar a licença, mas o que era para ser definido em uma semana levou mais de um mês, porque o INSS também não tinha no seu sistema como colocar o nome de um homem para tirar a licença.
Mas tudo isso no nosso ponto de vista é o despreparo e não preconceito como algumas pessoas falam.

Foto tirada no Fórum no dia que os papais conheceram o João.

Acreditamos que aos poucos vamos enfrentando essas “diferenças” e ganhando o espaço que é de todos por direito. Na escola, por exemplo, ficávamos insistindo no mesmo assunto da agenda, falamos com a direção, questionando o porque de ser Pai e Mãe ao invés de responsáveis por exemplo. Porque quando questionamos esses “detalhes” não é só por nós, mas e aquela criança que é filha de mãe solteira, ou aquela que não tem mãe ou que é criada pelos avós, tios, tias como ficam??? No ano passado, a agenda foi modificada e agradecemos a escola e aos pais também, porque todos saíram ganhando.
Outro fato interessante é em relação ao dia das Mães. Nosso filho no ano passado foi a primeira vez que questionou o porquê ele deveria cantar e ensaiar para o dia das mães já que ele não tinha mãe. Veja como as crianças não tem preconceito, é simplesmente um fato que acontece e que ele não entende o porquê fazer algo que não teria para quem se apresentar. Então tivemos reunião com a psicóloga da escola e direção. E foi o que questionamos novamente, tem uma coleguinha do meu filho que não tem pai e normalmente no dia dos pais, ela não participava da festinha ou eventualmente ela iria acompanhada do padrinho ou tio. Mas porque fazê-la passar por esse constrangimento. Após alguns dias tivemos retorno que então agora seria o dia da família e não mais dia das mães ou dos pais. Seria um encontro em que todas aquelas pessoas importantes para a criança poderiam estar presentes para a apresentação. Então acreditamos que o ideal realmente foi feito: O Dia da Família (lembrando que os presentes e trabalhinhos continuam sendo feitos e enviados para as mães ou pais), mas sem aquela exposição ou constrangimento de não ter um pai ou uma mãe para apresentar a sociedade.

Foto Daniela Dimer

E os trocadores de fraldas então! São sempre no banheiro feminino, por quê? Os pais não podem trocar seus filhos? Pai não vai passear no shopping com o seu filho sozinho? Como faz para trocar fralda?
Mas isso é um assunto que já se avançou muito. Hoje já existem os banheiros “família”, mas 6 anos atrás não tínhamos muito isso e era um grande problema.

Dia da união oficial dos papais do João. Foto Daniela Dimer

Mas a única coisa que é certa. Tudo vale a pena por um filho e é nisso que acreditamos e por isso batalhamos por tudo que nos é de direito, seja para nós ou para o nosso filho. Conforme a Constituição Federal, somos todos iguais perante a lei com todos os direitos e deveres. Então vamos fazer com que isso seja cumprido e não fique apenas no papel... Por isso que sempre falamos, nunca desista quando alguém lhe disser não, lute e vá até o fim naquilo que acredita, porque hoje estamos com nosso filho e a cada dia vamos conquistando mais espaço e direitos e lembrando que não queremos nada que não seja nosso, apenas fazendo valer as leis do nosso país, não só para nossa família, mas sim para todos os envolvidos em qualquer processo de discriminação, seja ela racial, sexual, social, de gênero, etc.
Abraços com carinho,
Família Quadros Gerhardt"

Vocês encontram mais histórias dessa família maravilhosa na página deles no facebook Amor Sem Preconceito. Curtam lá!


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