Ontem entrei num papo meio complicado, pois cada um pensa de um jeito, mas eu não consigo ficar em cima do muro. Uma coisa que sempre me irritou foi gente que fica se fazendo para um lado e para outro, mas não toma uma posição. Em um ensinamento quando nova e desiludida com as pessoas, ainda pré-adolescente, minha mãe disse, infelizmente muitas vezes devemos dançar conforme a música. Me senti super mal, e pensei que sempre tentaria não dançar conforme a música dos outros e sim a minha.
Aí que chegamos no título do post. As escolas estão começando a pensar em todas as crianças que estão em sua escola e muitas começaram a tirar a festividade dia das mães e dia dos pais separado e colocaram o "Dia da família", onde pode levar todo mundo sem distinção. Na escola da Malu também será assim, será no final de semana que vem, um piquenique no parque com a família toda.
E sabe o que eu achei? Eu amei!!!! Com todas as minhas forças. Pois vocês já sabem que sou filha de mãe solteira e por toda minha infância sofri com o dia dos pais. Não que eu achasse que precisasse de um durante o ano todo, mas porque nessa bendita data só se falava em presente do pai, musiquinha pro pai e por aí vai, na escola.
Vi gente falando "mas em todo canto só se fala disso, tudo afetará a criança". Mentira! Todo canto se fala, agora me respondam: os filhos de vocês reparam nas propagandas de dia das mães na tv e nas vitrines de loja de mãe? Ou eles reparam nas propagandas de brinquedos e lojas de brinquedos? Eu voto pela segunda opção.
Desde que eu me lembre por gente, nunca reparava nessas propagandas, mas a escola, quando somos pequenos, é realmente a nossa segunda casa. Lá é que passamos um grande número de horas de nossos dias e nossos amiguinhos são todos de lá. Então se o papo for a apresentação de dia das mães, a musiquinha, tu estarás nesse meio e serás afetado. O mundo da criança é a casa dela e a escola e ponto, deu, acabou.
Mas várias mães ficam pensando que querem muito ver seus filhos se apresentarem, pois é muito lindinho e tudo mais. Gente, terão milhares de outros momentos para a criança se apresentar ou tem que ser direcionado a ti, só a ti? No dia da família pode ter musiquinha e tudo mais, mas não precisa ser só mãe ou pai. É lindo? Pode ser. É fofo? É. Mas eu tenho que pensar só no meu umbigo?
Muitos dizem "as famílias mudaram e por isso estão fazendo isso". Bom, as famílias mudaram há milhares de anos e essa modificação não é direcionada aos casais gays, pois os casais gays são super presentes, não faltarão qualquer apresentação, a criança, filha deles não terá traumas por causa desses pais. Essas crianças tem amor de sobra, ter festa de dia das mães ou pais para eles tanto faz, pois os pais ou as mães estarão lá babando, com câmera na mão e super emocionados. Essa festa diferente é especialmente direcionada às crianças sem os pais (mãe ou pai). Aquela que perdeu os pais ou filhos de mãe solteira ou pai solteiro (pois existe).
Essas crianças que já sofrem e que não precisam sofrer mais ainda no seu lugar de acolhimento. Elas já são lembradas de diversas formas. Eu era lembrada quando perguntavam o meu nome e eu dizia "Sabrina Donatti" e o ser perguntava e o outro sobrenome e eu tinha que dizer que não tinha ou quando mostrava minha carteira de identidade e no nome do pai tinha um tracinho. As crianças que perderam os pais também sofrem todas as vezes que veem o coleguinha sendo buscado pela mãe ou pelo pai que ele não tem mais.
Algumas soluções, fazer dia das mães, dos pais e mais o da família, continuarás a fazer sofrer a criança que tem a falta de um deles. Fazer no sábado a festinha, as festinhas da minha escola eram no sábado e nem por isso ficavam amarradas apenas aquele dia, pois a tal musiquinha que as mamães querem ouvir são ensaiadas exaustivamente durante a semana.
Dizer que sou traumatizada por causa disso, posso dizer que não, mas ter evitado as festinhas obrigatórias teria economizado o dinheiro do psicólogo no bolso da minha mãe. Pois já contei aqui, que tem muita professora com zero de didática pra tratar com situações assim e eu fui obrigada pela professora a fazer trabalhinho de dia dos pais quando tinha 8 anos, fiz vários quando menor pois era levada na manada. E quando teve a apresentação de dia dos pais obrigatória no sábado na igreja e cada criança tinha que ir com a gravata do pai pra se apresentar. Qual gravata eu iria? Já que na minha casa só tinha mulher. Lá foi minha mãe catar uma gravata pra eu poder me apresentar. O que eu senti? Odiei! Pois não simbolizava nada pra mim a gravata de uma pessoa que não era o meu pai. Aquilo era a representação de um elo entre o pai e o filho se apresentando e pra mim não era nada. Eu era a palhaça com a gravata de ninguém.
Vocês querem se emocionar realmente com os filhos de vocês? Coloquem eles em aula de dança, futebol, karatê... A Malu fazia ballet o ano passado e eu chorei feito criança na apresentação dela de final de ano. A coisa mais lindinha do mundo. E não perdeu nada para apresentação tosca que a Malu fez para o pai no dia dos pais na escola antiga (na festinha do dia das mães, nós não fomos, pois era festa de aniversário dela). O pai até pode se emocionar, mas a criança nem tá muito aí. Mas na apresentação do ballet, era a realização dela estar naquele palco com as coleguinhas e a tia, tinha emoção.
O futebol ou artes marciais também são muito bacanas. Lembro dos jogos do meu irmão de futsal que íamos. Íamos todos e era a maior felicidade quando ela conseguia tocar na bola e depois que começou a ter maior habilidade e fazia vários gols, era muita emoção. E o sorriso dele de orelha a orelha era maravilhoso.
Sério que precisa da apresentação com a música do Roberto Carlos?
Imaginem só por um segundo, nem peço um minuto, pois é triste demais, caso te faças ausente na vida do teu filho. Tu achas que ele vai ficar feliz em ter que fazer parte da festinha do dia das mães?
Fico sempre imaginando as crianças que pai ou mãe simplesmente vão embora de casa e nunca mais voltam e essas crianças presenciaram tudo isso. Fico sempre imaginando o sofrimento nesses dias, nessas semanas... Pois para fazer a festinha de dia das mães ou pais se precisa de tempo e isso fará com que a criança lembre do seu abandono dia após dia no lugar que deveria ajudá-lo a superar essa perda.
Gente, não se está querendo excluir do calendário do mundo o dia das mães e dia dos pais, até porque isso será comentado na escola. Na escola da Malu estão acontecendo atividades sobre o dia das mães e ao conversar com a professora ela disse ser melhor, pois caso tivesse na aula da Malu uma criança sem a mãe ou o pai seria mais fácil de trabalhar isoladamente do que quando se tem uma apresentação para fazer que todas as crianças devem ser reunidas.
Eu podia falar milhares de outros motivos, mas ficaria muito longo, então prefiro ficar por aqui.
Saiam da zona de conforto e por favor, pensem no outro! Mais amor, por favor!