Feminismo é amor | Por Ana Emília Cardoso

Dia da mulher
Foto Daniel Freitas

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No ano passado, me peguei numa discussão ferrenha com minha professora de yôga. Ela disse que não era feminista, que não gostava de nada relacionado ao feminismo e por aí vai. Eu, que gosto muito dela, quis entender de onde vinha tanta aversão.

Contou que não odiava os homens e que achava as feministas nojentas porque elas tinham feito xixi na escadaria da Universidade de Pelotas. Eu não sabia dessa história, mas parei pra pensar. Até porque eu tinha que continuar o papo. A gente tinha uma plateia e a única feminista ali era eu, eu precisava representar bem o grupo. E também não queria que os guris da escola achassem que eu lhes odiava.

Primeiro expliquei que feminismo não é o contrário de machismo. O machismo é um sistema patriarcal, institucionalizado, de opressão de um gênero sobre o outro. Já o feminismo é um movimento que visa a igualdade. E, mais do que isso, desafia esse sistema. As pessoas confundem muito mesmo (inclusive os jovens) porque antes se falava muito pouco do feminismo. E este pouco geralmente era super estigmatizado. De forma negativa, é claro. 

Feminismo
Foto Daniel Freitas

Minha amiga trabalha, comprou a sua casa, tem uma relação igualitária, não fala mal de outras mulheres, se veste como ela gosta (e não exclusivamente para seduzir/agradar os homens). Mal sabia ela o quão feminista ela já era, mesmo odiando as radicais.

Defendo essas ideais há mais de dez anos, geralmente em pequenos grupos, entre mulheres e homens com quem convivo. Mas, com o passar do tempo, comecei a sentir uma vontade genuína de ir pras ruas. 
No ano passado, quando uma mulher foi estuprada por mais de 30 caras, aquilo mexeu comigo. A gente não pode cruzar os braços diante de tamanha atrocidade. Precisamos denunciar e reclamar sim. São as nossas vidas que estão em jogo, são as vidas das nossas crianças.

Na arte, muitas vezes um artista precisa exagerar e causar estranhamento para gerar uma reação no público, no movimento feminista não é diferente. Fazendo esta reflexão, passei a entender a Marcha das Vadias por exemplo. Eu também não gostava, me agredia. O recado da marcha é o seguinte - você vai me chamar de puta se eu usar tal roupa, tal batom, tal comprimento de saia? - então pode chamar, mas eu vou usar tudo que bem entender. Não é verdade? A sociedade não é exatamente assim? Está sempre patrulhando e controlando os corpos e a vida das mulheres. Sempre tem um dedo apontando uma falha. Então, as vezes é preciso escancarar mesmo.

Feminismo
Foto Daniel Freitas

Eu não ficaria nua nem faria xixi na escada de Pelotas, mas quantas vezes (às vezes mais de 3 no mesmo dia) vi homens urinando na minha frente, nas ruas, sem qualquer pudor? MUITASSS
Aí eu entendo o tipo de desconforto que essas feministas de Pelotas quiseram passar para a plateia. E não sinto nojo algum, sinto admiração pela coragem de protestar contra essa violência que nós passamos o tempo todo. E no dia 8 de março, vou pra rua em Curitiba - onde estou morando - junto a milhares de mulheres para reclamar nossos direitos e denunciar as violências que sofremos. Não duvido nada que a minha ex- profe vá pras ruas também em Porto Alegre.

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Obrigada, Ana, por esse lindo e esclarecedor texto! Caso tu não estavas nesse planeta no último ano a Ana é a autora do livro A Mamãe é Rock e tem vários projetos maravilhosos que tens que conhecer. Ela é jornalista e socióloga, além de escritora e feminista.

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