Arte e castigo

Arte é como chamam aqui quando alguma criança resolve dar suas aprontadas "essa criança é muito arteira, está sempre fazendo alguma arte". E a Maria Luísa entrou para o hall das artistas de plantão, é uma arteira.
Desde pequena ela sempre quis ver o mundo rapidinho, enquanto todos os bebês na maternidade ficavam de olhinhos fechados ainda querendo se situar no mundo, ela já estava de olhos bem arregalados vendo o mundo. E assim continuou quando ainda recém nascida já ficava toda durinha, nunca achei nada excepcional por imaginar que era normal, mas outras mães e a minha cunhada que também é mãe sempre comentava.
E assim ela se mantém, querendo ver o mundo e explorá-lo e essa de explorar que está nos deixando de cabelo em pé. Cada dia ela acorda já pensando em qual será a nova do dia, mas ela tem as preferidas, se tem...
Ela ama a Charlotte, que vocês já sabem que é a nossa cachorrinha, mas ela ama tanto que acha interessante partilhar a comida. Não a comida da Maria Luísa e sim a comida da Charlotte. Ela se agacha ao lado do prato e fingindo que vai dar pra Charlotte a ração coloca na boca, é um caos, saio correndo que nem doida, digo que não, mas não adianta e tenho que enfiar a mão na boca dela pra tirar o que ainda resta. E nisso ela acha a maior graça ou dá gritos, pois quer comer.
Outra arte que ela adora é abrir a torneira da água mineral, quando vejo ela já está lavando a cara, o cabelo e o que mais ela consegue nesse tempo de descuido. Tivemos que deixar a bombona toda torta pra ela não pegar mais, pois não sei quanto de água já perdi nessa brincadeira.
Comer giz de cera, pedra/areia e tudo que ela puder colocar na boca é outra arte interessante, mas isso é tudo fase oral e não adianta reclamar tem que esperar passar e claro ficar com aquela frase de sempre na boca "Maria Luísa tira da boca! Não pode!". Algumas vezes ela aceita na boa, outras vezes aparece uma certa revolta de ter que acatar o nosso pedido. 
Subir em alguns lugares que não podem, enfiar o dedo na tomada, puxar tudo que ela acha por cima da mesa (inclusive esse laptop que estou escrevendo agora), enfiar a cabeça no meio das pernas do papai enquanto ele está fazendo xixi (eu falo que ele tem que garantir que a porta está fechada), colocar a comida da Charlotte na água, tirar todos os meus potes do armário, abrir e fechar a gaveta da estante da sala e se puder tirar o que ela acredita ser interessante dali de dentro, puxar papel-higiênico, puxar lenço umedecido, ela ama pegar a caixinha dos cotonetes e esparramar no chão, tirar as pontas das bananas que estão na fruteira, ufa e nem perto de acabar a lista.

As bananinhas sem ponta


Com essa função de gostar de sair colocando a mãozinha por cima dos armários e sair catando o que consegue pegar ela já virou linhaça por toda a minha cozinha e quando peguei no flagra me olhou como se nem tivesse feito nada. E a mais chata de todas é fazer a Charlotte de pandeiro dando tapas na coitadinha, nisso ela levou uma puxada séria e que nos fez escutar 11 minutos de reclamação dela, sim, ela achou que tinha razão de ter batido e ficou reclamando e reclamando pra mim e pro papai na língua dela. Deixamos ela "falar" e depois de termos conseguido entender o que era o motivo de tanta reclamação tivemos que explicar que ela não pode bater na Chachá, pois ela é amiga dela e tal. Pareceu que ela entendeu e fez carinho na pobre cachorra que nem sabia o motivo de levados tantos tapas antes.

Maria Luísa e a linhaça



Até então estávamos nas explicações e mais explicações, mas chegou um dia que vimos que o negócio não estava mais funcionando como antes e tivemos que pensar no castigo. E até que chegou o dia do primeiro castigo, cansada de só pegar e comer a ração da Charlotte, colocar a ração da coitada na água, ela resolveu virar o pote de água da Chachá por toda a cozinha e sabe quando tu não aguentas de tanta invenção num dia só e isso que ainda era de manhã, aí o resultado foi o primeiro castigo. 
Achei que ela fosse espernear, chorar, mas não, a coloquei na cadeira dela e grudada na parede e disse o motivo dela estar ali. E ela ficou numa boa, deu uma conversa com a janela onde passavam passarinhos e quando tentou sair, eu disse que era pra ela ficar ali e ela ficou. Parecia que estava tirando um tempo pra pensar na próxima arte que ia fazer. 
Quando deu o tempo, fui na frente dela, falei que ela não podia mais mexer nas  coisinhas da Charlotte e ela falou algo que eu não entendi, mas sei que estou ralada quando ela começar a falar pois vai querer argumentar e quando disse pra ela me dar um abraço, ela já veio com o abraço e com o beijo. Sério, fiquei com a cara no chão e achei que ela não tinha entendido nada, mas pra me deixar com a cara no chão novamente, não voltou mais lá.
Teve mais 1 castigo nesse meio tempo, pois acho necessário avaliar o que merece apenas uma repreensão e o que merece castigo, pois se tudo for castigo perde o sentido. Então tenho que ficar avaliando todo o tempo, e como é difícil. 
Mas hoje foi dia que ela passou do limite, ela começou a chorar no começo do almoço e como todo mundo que conhece a Malu sabe, ela é boa de garfo, então era manha pura. Eu tentava dar a comida pra ela, já que não queria saber de comer com a própria mão, coisa que ela já faz, e ela virava o rosto e chorava e chorava. Deu tapa na colher, empurrou o prato, fez tudo que quis, até que não deu mais pra aguentar. Tirei ela da cadeira e a coloquei na cadeirinha, mas deu alguns segundos e ela saiu da cadeira. Achamos que o cantinho seria o necessário e coloquei, mas ela estava achando engraçado, dava risada e saía do canto. Até que depois de não só eu falar com ela, mas o pai também e eu não ficar mais pegando ela e a colocando no canto e sim a mandando ir, ela entendeu e ficou. Demos um tempo menor, mas fui ali falar com ela, na altura dela e me deu abraço e voltou a sentar na mesa. Comeu, mas não comeu tudo, vi que já não era mais manha e deixei que ela não comesse mais, mas aí vi o quanto é complicado essa história de educar.
E nisso é que vemos o quanto é mais fácil deixar gritar, bater, fazer e acontecer do que impor limites. Morro quando vejo mães que apanham dos filhos na rua, fico com vergonha por elas. E agora, será que vou passar por isso algum dia?! Pois já tive que tirar a Maria Luísa chorando da frente de um brinquedo da Galinha Pintadinha que ela queria e ver uma mulher passar com cara de "que coisa feia". E isso que ela nem estava se jogando no chão nem nada, estava apenas choramingando e tentando voltar pra pegar o brinquedo. 
Por enquanto vamos tentando ensinar com limites, pois prefiro ser a chata do que a que deixa tudo e depois o povo virar as costas e falar mal da filha mal educada. Mas como é complicado e como nos deixa doidos tomar essas decisões. Boa sorte, pra mim e pra vocês!

Beijos. 
Comentários
4 Comentários

4 comentários:

  1. Tomara que dessa vez não apague!
    Eu adorei as artes de Malu, mas se eu estivesse perto ia te apoiar totalmente! Eu sempre falo com as pessoas, principalmente com as que não tem filhos e me censuram porque eu sou dura com a Gi que eu prefiro ser a mãe mala do que deixá-la fazer tudo o que quer e depois se tornar um adolescente/adulto que pensa que o mundo gira em torno do umbigo. Chata sempre! Um dia ela vai saber que quanto maior a chatice maior é o amor que tenho por ela! Beijo na minha gostosa bagunceira!

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  2. Muito engracado suas artes ! rs
    Mas outro dia li um artigo sobre castigo, dizem que o ideal eh comecar a partir dos tres anos de idade ....e ai colocar um minuto por idade ..dependendo da gravidade aumentar um pouquinho!
    Ate aqui tenho conseguido manter o dialogo cm a Manu .vamos ver ate qnd neh ?!?!?!
    bjos

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    1. Desculpa a demora da resposta... já li vários também e na maioria a ideia é impor limites desde sempre e que as crianças menores que três anos sabem fazer birra e mal criação de verdade sem ser instinto ou só pra conhecer o diferente. E é nisso que tem que diferenciar pra não ficar podando a criança sem necessidade. Inclusive, o pediatra do filho de uma amiga disse para ela colocar de "castigo" durante alguns segundos o filho dela, na época, com uns 6 meses mais ou menos, pois ele a mordia em todas as mamadas e ele tinha que entender que isso não se podia fazer. Ela disse que a ideia era deixá-lo dentro do berço durante poucos segundos e conversar com ele e disse que ele não fez mais. Ela conta que na hora que o médico falou ela achou que ele estivesse doido, mas como enfermeira foi procurar e viu que não era loucura e super adiantou. Então o melhor é começar desde cedo a impor limites, pois depois pode ficar bem mais difícil, mas claro que com cautela. Bjss

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