No Dia Mundial da Conscientização do Autismo publiquei uma foto da Malu vestindo azul, tanto no instagram (@mamaeemconstrucao) quanto na página do facebook e uma seguidora veio me contar a linta história dela, que me emocionou muito e hoje eu venho contar para vocês como foi a nossa conversa.
O nome dela é Sara e agora passo às palavras a ela.
"Meu marido e minha afilhada são autistas, precisam de uma atenção diferenciada. São especiais, pois veem o mundo de um jeitinho diferente e todo próprio. Demorei a me acostumar com o jeito de cada um, mas como são de um grau leve é fácil de se adaptar as manias"
Eu amei saber e na mesma hora perguntei se ela queria contar no blog e ela me contou mais detalhes.
"Bom, eles são pessoas extremamente tímidas, fora as pessoas mais próximas da família, é muito raro eles gostarem de alguém. Como não tenho contato diário com a minha afilhada não sei muito os costumes dela, apenas que ela prefere brincar com crianças menores e tem um talento enorme para desenho. Adora desenhar animais e coisas do gênero e me mostra todos. Não é muito de brincar e prefere brincar sozinha, no mundinho dela.
Já meu marido é todo cheio de manias, não gosta de sair de casa. Comida é complicado acertar o jeito que ele gosta, já que tem que ser tudo meio queimado ou frito, e digamos que nem eu e nem meu filho podemos comer assim, então tento equilibrar que fique de acordo com todos. Ele não tem muitos amigos pessoalmente, apenas amigos que jogam com ele na internet, tirando os avós (que criaram ele no lugar dos pais), eu e meu filho, ele não gosta de ninguém.
Na escola ninguém podia sentar perto dele, tinha que ter uma classe vaga de distância. Sorte que os professores já conheciam ele e não se importavam com isso e ele era o único que podia fazer trabalho sozinho.
Ainda me impressiono em como ele acabou casando, já que fui a primeira namorada dele. Tem um dom incrível para desenho e uma criatividade enorme também. E por mais estranho que pareça ele seria um ótimo professor porque sabe ensinar as coisas de um jeito impressionante e é super protetor com quem ele ama.
Cada um tem um jeito de enxergar o mundo, mas os autistas tem um jeitinho especial de ver e interpretar as coisas. São autistas de grau leve que não precisam frequentar algum acompanhamento especial, apenas uma atenção e paciência especiais, basta a gente adaptar a nossa vida a deles e aprender a conviver com algumas manias que eles têm. Muitas até lindas, como o carinho visivelmente verdadeiro com as pessoas que amam e a super proteção".
O melhor foi quando ela disse que deixava eu colocar no blog, por achar muito legal poder compartilhar com as pessoas as experiências que temos em relação ao autismo.
Mas eu pouco curiosa queria saber mais e, claro, que queria saber como eles se conheceram e começaram a namorar. E ela me respondeu carinhosamente.
" A gente se conheceu por acaso na escola através de amigos nossos. No dia eu não conseguia entender o nome dele (Joseff), até porque ele falava muito baixo, extremamente tímido. Nos cumprimentávamos todos os dias e aos poucos nos tornamos amigos. Todos os recreios ficávamos juntos e ele acabou se apaixonando e eu não sabia. Uma amiga um dia perguntou se eu ficaria com ele e eu respondi que sim. Eu gostava dele e achava ele lindo ( porque não, né?!). Mau eu sabia que eu dei o primeiro beijo dele ( ele era B.V com 16 anos), nos falávamos nos finais de semana pelo MSN (na época).
Como eu não sabia o que sentia ao certo por ele acabei negando o pedido de namoro e ficamos apenas como amigos por mais uns 7 meses até eu descobrir que ele iria embora para morar com o pai dele por minha causa. Só então eu percebi que o amava (infelizmente demorei para perceber isso), então contei a ele o que sentia fazendo ele decidir ficar.
Começamos a namorar (como diziam os professores, o casal 20), namoramos por 5 meses e meio contra a vontade dos meus pais. Eles diziam que ele era muito estranho e tudo mais, então resolvemos morar juntos, por que eu não queria brigar todos os dias em casa por causa disso. 'Nos casamos' e moramos juntos com os avós dele de criação.
Em um ano ele foi pro quartel e fiquei grávida. Foi difícil para os dois, ele longe da família, todo tímido do jeito que era e eu grávida sozinha.
Ganhei o nosso filho há 1 ano e 5 meses que é o orgulho dele (e meu também, é claro). Mas ele só começou a tentar cuidar do filho agora que ele está grandinho, porque ele tinha medo de machucá-lo já que ele nunca havia feito isso.
Aos poucos ele foi diminuindo a timidez e sendo um pouco mais comunicativo.Está até trabalhando de vendedor, mas em compensação ele não gosta de sair para passear na casa dos outros (ex. casa da minha mãe). Ele só sai pra fazer alguma compra e vender, mas já melhorou muito em 4 anos.
Um detalhe que esqueci de comentar, ele não sabe se explicar, ele até tenta explicar, mas se enrola todo e consegue fazer os outros entenderem tudo errado. Com o tempo eu já me acostumei a consertar as explicações dele. Mas é só questão de jeito, por que ele é uma pessoa extremamente inteligente e carinhoso com quem ele ama. Seria um ótimo professor e tem uma habilidade para desenho e criatividade invejável. Estamos juntos há 4 anos e temos um filho. Família estranha, mas feliz. Cada um de uma personalidade distinta, não sei como deu certo, mas deu".
Fotos dessa família diferente e super especial! A Sara me disse que tem problemas com fotos dos 3, pois ele não é muito fã de tirar fotos.
E continua dando, né, Sara?!
Fui ver as fotos deles e eles são super novinhos e um amor o pequeno deles.
E que todo mundo entenda que ser um pouco diferente, não quer dizer que a pessoa não tenha muitas coisas especiais para nos dar. Na verdade, cada mais eu vejo que eles tem muito mais para nos dar, do que nós a eles. Todos somos diferentes e todos somos iguais, em carinho e amor.